domingo, 27 de fevereiro de 2011

SOBRE O EDUCAR E A EDUCAÇÃO

Questionar as concepções sobre o educar torna-se importante a medida em que vamos percebendo que existem propostas educativas que são "deseducativas". Dar ao filho tudo o que ele quer pode ser mais nocivo do que privá-lo, em algumas situações.
O problema é que educar não é facil, não existem regras fixas para realizar esta tarefa, no máximo alguns conselhos ditados pelo bom senso. É que educar os filhos passa pela necessidade de um verdadeiro relacionamento destes com seus pais, exige um nível de intimidade que muitas vezes chega a incomodar, devido ao fato de nos colocar em confronto direto conosco.
Um confronto com a criança que somos e fomos, com as angústias que não digerimos, com as crises que não superamos, com as marcas que nos deixaram, enfim, com tudo que gostaríamos de dar conta e ainda não conseguimos.
Para educar é preciso se educar, se conhecer e conhecer o outro, já que o filho até pode se parecer com você, mas não é, nunca foi, e nunca será você. Educar é um caminho que se constrói na relação com o outro, onde mais do que estar certo ou errado, é estar com o outro.
É uma relação dinâmoca onde as necessidades são percebidas, consideradas, respeitadas, mas satisfeitas a medida do possível. É um intercâmbio que nos ensina, na medida em que ensinamos, a tolerar frustrações, um dos mais valiosos segredos da vida, porque nos ensina a pensar, educar é ensinar a pensar.
Quem não tolera frustrações, não desenvolve a capacidade de pensar, se limita a ficar reproduzindo padrões esteriotipados, regras fixas ditadas por modismos, referências que usualmente vem de fora. Educar é poder se olhar e olhar o outro com franqueza, valorizando o que é essencial, ao mostrar que a verdadeira conquista do ser humano é o domínio que se pode ter sobre sí mesmo.
É aprender compartilhar sonhos, sonhar juntos, sem perder a perpectiva do que é possível realizar. É realizar juntos, com o direito a errar quantas vezes for preciso ou inevitável, e ao olhar para trás, sentir que não foram erros, apenas tentativas necessárias para que tudo pudesse se ajeitar.
É poder sorrir e chorar juntos, é poder entender e não entender, se magoar e perdir perdão. Educar é fazer valer a pena o tempo que passamos juntos, torná-lo insubstituível, é amar e se sentir amado, vivênciar esse sentimento único e capaz de preencher verdadeiramente nossas vidas.
É uma relação dinâmica como a vida, onde aprendemos juntos e construímos juntos um sentido de vida, para que um dia, ao nos separarmos, juntos levarmos dentro do coração a grandeza do tempo que passamos juntos.

O LUTO NOSSO DE CADA DIA

Por não alcançarmos o sentido de transformação que existe no processo de desapego, no processo de luto diário que realizamos a cada momento, nos tornamos reféns de nossa própria insegurança, o que gera angústias intermináveis. Sentimos medo do desapego, pois geralmente ele vem com um sentido de perda.
Não conseguimos vislumbrar a importância organizadora e transformadora da dor e da frustração. O ato de negarmos os lutos faz com que vivamos de forma inconsciente, não entramos em contato com o poder transformador que existe em nós. É na dor que aprendemos pensar, e o pensar aciona nossa capacidade de modificar as situações.
Acredito que essa tendência a estar inconsciente que mencionei, talvez tenha suas raízes na tentativa que temos de evitar entrar em contato nossa morte física, o grande e assustador mistério da vida.
Nada contra a tentativa de defesa psíquica que desenvolvemos para não estarmos o tempo todo nos angustiando com a possibilidade de nossa própria morte, a não ser pelo fato de que isso pode fazer com que não entremos em contato com aspectos significativos de nossas próprias vidas.
 Enquanto estivermos vivendo de forma inconsciente, vivemos no escuro, tropeçamos e caímos, não estamos no presente, nem para o mundo e nem para nós mesmos. É como se, estivéssemos de certa forma, mortos. Não usamos plenamente nossa capacidade de ver, ouvir e sentir. Não usamos nossos sentimentos, somos usados por eles, nos tornamos vítimas de nós mesmos.
Quando passamos a viver de forma consciente, começamos a descobrir que muitas coisas, com as quais nos apegávamos se esvaem, perdem o valor desproporcional que a elas atribuíamos. Enquanto vivemos de forma inconsciente, vivemos em nosso próprio mundo, não compartilhamos, não conseguimos ter com os outros um mundo em comum.
Temos apenas um mundo “incomum”, vivemos enclausurados em nosso próprio mundo, em nossos próprios pensamentos, conceitos sonhos e desejos, não nos relacionamos verdadeiramente. Tudo tem que ser apenas do nosso jeito e, quando encontramos outras pessoas, os mundos particulares entram sempre em choque, todos querem ter razão.
Em seu livro “consciência”, Osho nos fala sobre a importância de entrarmos em contato com a morte, sobre o quanto isso pode re-significar nossas vidas. Quanto mais fundo exploramos a morte, mais fundo exploramos a vida.
Viver de forma consciente é nos darmos conta dos nossos pensamentos e atitudes, percebermos que muitas coisas que costumávamos fazer já não nos são necessárias. Fazemos nossos pequenos lutos diários com serenidade, e assim realizamos mudanças significativas, propiciando-nos qualidade de vida.
A importância desse exercício consiste em podermos perceber que são esses pensamentos que afetam diretamente tudo que é importante em nossas vidas. São eles que afetam tudo que fazemos e o que deixamos de fazer, afetam tudo. E a soma disso tudo vai ser a nossa vida!

ENTRE O AGIR E O REAGIR: UMA SIMPLES PROPOSTA

Quando você reage, significa que alguém está tendo uma atitude que desencadeia em você uma determinada resposta. O verdadeiro dono da situação é o outro, você fica determinado a sempre reagir ao que o outro te propõe, você não propõem nada.
.Se o outro o elogia você fica feliz, se o outro o insulta você fica com raiva, um verdadeiro fantoche na mão das pessoas. Se você age, pode ser espontâneo, poderá ser livre, e a primeira libertação é parar de por a culpa nos outros, a primeira libertação é saber que você é o responsável por você e pela sua vida.
Se continuar a por a responsabilidade nos outros, você será sempre um escravo, pois ninguém pode mudar ninguém. Você tenta encontrar a causa de seu comportamento no outro, gastando toda sua energia querendo saber o “por que” o outro age assim com você.
Você vai criando hábitos que obrigam você a fazer certas coisas, você se torna uma vítima. Em essência sua vida continuará a mesma, cada ato que você repete, cada pensamento ou ação tem suas próprias formas de continuar persistindo. Você o estará executando, mas não se reconhecerá como seu autor, estará fazendo isso pela força do hábito.
Você continua pensando que é você quem está decidindo, mas na realidade está apenas reagindo ao comportamento dos outros. Você se justifica pensando que a situação só permitiria a você reagir assim, a situação exigiu de você este comportamento.
Independente do que esteja acontecendo com você, se continuar a colocar a responsabilidade no outro você não conseguirá realizar as mudanças que deseja fazer. Isso significa que alguma coisa vem primeiro, de dentro de você, e você a associou a outra pessoa.
Você tem que retroceder a causa original dentro de você, se alguém te pareceu desagradável talvez seja porque tocou em uma ferida sutil que você possui. Você se sente infeliz com algo que julga ser um defeito seu, algo que fere a sua auto-estima, dessa forma quando outro te faz entrar em contato com isso, torna-se desagradável para você.
Quando você estiver mais consciente de suas próprias questões internas, você estará pronto para agir, você será mais verdadeiro, mais livre. Perceberá que é você quem faz a manutenção de seus comportamentos, você tem sempre a possibilidade de escolher.
Saber que somos de nossa inteira responsabilidade nem sempre nos faz sentir confortáveis. Realizar mudanças não costuma ser fácil, exige reflexão, disciplina e muita disposição para entrar em contato com nossas feridas internas. No entanto, a verdade é uma só, não adianta repetirmos os mesmos padrões de comportamento esperando que os resultados, magicamente, se apresentem de forma diferente. 

DESPERTAR

Acordara cedo, o dia estava lindo, espreguiçando despertou-se saciada, não havia mais sonhos nem sono. Abrindo os olhos lentamente planejou mentalmente seu dia como lhe era de costume.
Como naufraga da vida, percebeu-se em sua ilha com dimensões bem definidas, ou melhor, dizendo, “com limitações bem definidas”. Por alguns instantes vislumbrou rapidamente algumas das ilusões perdidas, aquelas encarceradas pelas emoções mal resolvidas.
Vendo-se cercada por um mar de possibilidades, se sentiu sozinha, não sabia escolher, nem tudo lhe pertencia, mas sentia que algo precisava mudar. Talvez fosse aquela sensação de “como se fosse a última estação” para as mudanças. Ou um “há de se conformar”, sacudiu a cabeça vigorosamente, não podia se imaginar refém da vida daquele jeito.
Percebeu que a muito vinha reclamando das pessoas, à custa de uma insatisfação que era muito sua, apenas sua. Respirou fundo e agora com certo grau de euforia e entusiasmo já se sentia melhor, apesar de só. Num misto de indignação e alivio se apropriou de sua bagagem como quem sai de um trem cujo destino desconhece, aqueles dos filmes “cult” em preto e branco.
Imaginou-se de chapéu e sobretudo, com algumas malas de papel e pode rir de si mesma, sem se importar em como iria carregá-las. No íntimo apenas a certeza de que de agora em diante faria tudo diferente, a mudança seria na essência.
Pensou no possível, no impossível, revirou suas gavetas internas, e olhou distraidamente o relógio percebendo que já era hora de ir para o trabalho. No enquadre do tempo, enquadrou as suas novas perspectivas, ainda que não soubesse como realizá-las.
Tomou um banho sentindo todo o prazer de estar viva. Arrumou-se e rumou para estação da vida de chapéu, sobretudo e malas prontas, como alguém que agora busca conhecer melhor o seu destino. Pronta para aceitar e viver, mas sempre alerta, consciente, lúcida e atenta.