domingo, 27 de fevereiro de 2011

O LUTO NOSSO DE CADA DIA

Por não alcançarmos o sentido de transformação que existe no processo de desapego, no processo de luto diário que realizamos a cada momento, nos tornamos reféns de nossa própria insegurança, o que gera angústias intermináveis. Sentimos medo do desapego, pois geralmente ele vem com um sentido de perda.
Não conseguimos vislumbrar a importância organizadora e transformadora da dor e da frustração. O ato de negarmos os lutos faz com que vivamos de forma inconsciente, não entramos em contato com o poder transformador que existe em nós. É na dor que aprendemos pensar, e o pensar aciona nossa capacidade de modificar as situações.
Acredito que essa tendência a estar inconsciente que mencionei, talvez tenha suas raízes na tentativa que temos de evitar entrar em contato nossa morte física, o grande e assustador mistério da vida.
Nada contra a tentativa de defesa psíquica que desenvolvemos para não estarmos o tempo todo nos angustiando com a possibilidade de nossa própria morte, a não ser pelo fato de que isso pode fazer com que não entremos em contato com aspectos significativos de nossas próprias vidas.
 Enquanto estivermos vivendo de forma inconsciente, vivemos no escuro, tropeçamos e caímos, não estamos no presente, nem para o mundo e nem para nós mesmos. É como se, estivéssemos de certa forma, mortos. Não usamos plenamente nossa capacidade de ver, ouvir e sentir. Não usamos nossos sentimentos, somos usados por eles, nos tornamos vítimas de nós mesmos.
Quando passamos a viver de forma consciente, começamos a descobrir que muitas coisas, com as quais nos apegávamos se esvaem, perdem o valor desproporcional que a elas atribuíamos. Enquanto vivemos de forma inconsciente, vivemos em nosso próprio mundo, não compartilhamos, não conseguimos ter com os outros um mundo em comum.
Temos apenas um mundo “incomum”, vivemos enclausurados em nosso próprio mundo, em nossos próprios pensamentos, conceitos sonhos e desejos, não nos relacionamos verdadeiramente. Tudo tem que ser apenas do nosso jeito e, quando encontramos outras pessoas, os mundos particulares entram sempre em choque, todos querem ter razão.
Em seu livro “consciência”, Osho nos fala sobre a importância de entrarmos em contato com a morte, sobre o quanto isso pode re-significar nossas vidas. Quanto mais fundo exploramos a morte, mais fundo exploramos a vida.
Viver de forma consciente é nos darmos conta dos nossos pensamentos e atitudes, percebermos que muitas coisas que costumávamos fazer já não nos são necessárias. Fazemos nossos pequenos lutos diários com serenidade, e assim realizamos mudanças significativas, propiciando-nos qualidade de vida.
A importância desse exercício consiste em podermos perceber que são esses pensamentos que afetam diretamente tudo que é importante em nossas vidas. São eles que afetam tudo que fazemos e o que deixamos de fazer, afetam tudo. E a soma disso tudo vai ser a nossa vida!

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