domingo, 27 de fevereiro de 2011

DESPERTAR

Acordara cedo, o dia estava lindo, espreguiçando despertou-se saciada, não havia mais sonhos nem sono. Abrindo os olhos lentamente planejou mentalmente seu dia como lhe era de costume.
Como naufraga da vida, percebeu-se em sua ilha com dimensões bem definidas, ou melhor, dizendo, “com limitações bem definidas”. Por alguns instantes vislumbrou rapidamente algumas das ilusões perdidas, aquelas encarceradas pelas emoções mal resolvidas.
Vendo-se cercada por um mar de possibilidades, se sentiu sozinha, não sabia escolher, nem tudo lhe pertencia, mas sentia que algo precisava mudar. Talvez fosse aquela sensação de “como se fosse a última estação” para as mudanças. Ou um “há de se conformar”, sacudiu a cabeça vigorosamente, não podia se imaginar refém da vida daquele jeito.
Percebeu que a muito vinha reclamando das pessoas, à custa de uma insatisfação que era muito sua, apenas sua. Respirou fundo e agora com certo grau de euforia e entusiasmo já se sentia melhor, apesar de só. Num misto de indignação e alivio se apropriou de sua bagagem como quem sai de um trem cujo destino desconhece, aqueles dos filmes “cult” em preto e branco.
Imaginou-se de chapéu e sobretudo, com algumas malas de papel e pode rir de si mesma, sem se importar em como iria carregá-las. No íntimo apenas a certeza de que de agora em diante faria tudo diferente, a mudança seria na essência.
Pensou no possível, no impossível, revirou suas gavetas internas, e olhou distraidamente o relógio percebendo que já era hora de ir para o trabalho. No enquadre do tempo, enquadrou as suas novas perspectivas, ainda que não soubesse como realizá-las.
Tomou um banho sentindo todo o prazer de estar viva. Arrumou-se e rumou para estação da vida de chapéu, sobretudo e malas prontas, como alguém que agora busca conhecer melhor o seu destino. Pronta para aceitar e viver, mas sempre alerta, consciente, lúcida e atenta.

Um comentário:

  1. É tão intenso e faz tanto sentido na minha vida que fica difícil descrever o que sinto qdo leio pela milésima vez este texto.
    MARAVILHOSO!!!

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